Crianças com muita energia, agitadas e com problemas de desatenção. Essas características podem ser comuns na infância, mas também representar os sintomas do Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), problema que pode acometer crianças e adultos. Porém, no caso dos pequenos, como muitos dos sintomas tendem a ser confundidos com comportamentos normais da infância, familiares ou responsáveis, geralmente, sentem muita dificuldade em distinguir o que é saudável ou não.
Por isso, conversamos com a psicóloga Mônica Maria Bezerra Costa (CRP 22/02271), que atende na clínica AmorSaúde, parceira do Cartão de TODOS, localizada na cidade de São José de Ribamar, no estado do Maranhão, para responder as principais dúvidas sobre o transtorno. Confira a seguir.
1 – O que é Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH)?
Psicóloga Mônica Costa: O TDAH, ou ainda Transtorno Hipercinético, é um transtorno próprio do neurodesenvolvimento. Essa nomenclatura decorre do fato de ele ser percebido no início do desenvolvimento, principalmente nos cinco primeiros anos de idade, ou antes do ingresso na vida escolar, e ainda ser marcado por déficits que prejudicam no modo como a pessoa vai agir na vida pessoal, acadêmica, profissional e social num todo.
As crianças diagnosticadas são nomeadas também como hipercinéticas devido ao padrão de inquietação, imprudência e impulsividade. Além disso, é importante destacar que o TDAH costuma persistir na vida adulta, resultando na continuidade quanto às dificuldades no funcionamento social, acadêmico, profissional e dificuldades como consequências do isolamento social e problemas com a autoestima.
2 – Quais os principais sintomas do transtorno nas crianças?
Psicóloga Mônica Costa: Segundo o DSM-V [sigla inglesa para Diagnostic and Statistical Manual, que significa Manual de Diagnóstico e Estatística], os principais sintomas seguem o padrão de:
- desatenção e desorganização: frequentemente, as crianças não prestam atenção em detalhes ou cometem erros por descuido em tarefas escolares, no trabalho ou durante outras atividades. Mesmo na ausência de qualquer distração óbvia, há perda do foco e facilmente são, muitas vezes, consideradas como desleixadas e despreocupadas. A criança evita, não gosta ou reluta em se envolver em tarefas que exijam esforço mental prolongado, distraindo-se por estímulos externos com facilidade;
- hiperatividade e impulsividade: manifesta-se antes dos 12 anos de idade em dois ou mais ambientes como em casa e na escola; com amigos ou parentes; e em outras atividades, relacionadas à agitação motora, com ações impensadas, imediatas e inquietude exacerbada.
Esses sintomas podem se apresentar nos níveis leve, moderado ou grave, conforme a sua intensidade e prejuízos que acarretam na vida da criança.
3 – Como os pais podem identificar que a criança precisa de auxílio médico, já que muitos comportamentos também podem ser apresentados em crianças saudáveis? Como saber em que momento procurar ajuda médica?
Psicóloga Mônica Costa: A presença de desatenção, desorganização e/ou hiperatividade-impulsividade, quando manifestada em frequência elevada, acarretando prejuízos à criança nos mais diversos locais da sua vida social, como no ambiente escolar e no convívio com a família, pode ser um sinalizador para que se busque apoio profissional especializado.
É importante que os pais ou responsáveis observem seus filhos na vivência de suas rotinas, dialoguem com os professores e estejam atentos às tarefas diárias. Dessa forma, sendo pais participativos na infância, vão ajudar a compreensão das singularidades de cada criança e identificar qualquer diferença que possa prejudicar seu desenvolvimento. O TDAH é um transtorno e devemos evitar considerá-lo como uma doença ou falta de saúde para as crianças. Trata-se, sim, de um conjunto de fatores que influi de forma disfuncional na vida delas, sinalizando a necessidade de cuidado especializado. Meninos e meninas podem ser diagnosticados, contudo, devido a questões referentes ao gênero, os meninos são mais facilmente diagnosticados.
4 – Como é realizado o diagnóstico?
Psicóloga Mônica Costa: O TDAH se inicia na infância, sendo exigidos que vários sintomas estejam presentes antes dos 12 anos de idade, algo que demarca a importância de uma apresentação clínica substancial durante a infância. Segundo a Associação Brasileira do Déficit de Atenção (ABDA), o diagnóstico é inteiramente clínico, baseado nos sintomas. Logo, há dispensa do exame de ressonância, eletroencefalograma ou qualquer outro que avalie características físicas, sendo pautada na dimensão comportamental. Os responsáveis ou pais podem sentir inseguranças por conta da ausência de exames, porém esse é o procedimento diagnóstico normativo. Nessas condições, o diagnóstico de TDAH deve ser resultado de uma interação clínica responsável, não imediata, que decorra de uma avaliação pautada depois de encontros e estudo do caso, para evitar incongruências ou erros diagnósticos.
5 – Quais as possíveis causas do transtorno?
Psicóloga Mônica Costa: Segundo consta no DSM-V, existem causas temperamentais ligadas à afetividade negativa e/ou maior busca por novidades. Fatores ambientais, como baixo peso exacerbado ao nascer (menos de 1.500 gramas) indica um risco 2 a 3 vezes maior para TDAH, embora a maioria das crianças com baixo peso ao nascer não desencadeiem. O tabagismo e o álcool na gestação podem estar correlacionados, mas parte dessa ligação reflete um risco genético comum e até mesmo relacionado a reações a aspectos da dieta. Histórico de abuso infantil, negligência, múltiplos lares adotivos, exposição à neurotoxina como chumbo e infecções como encefalite podem ser possíveis causas. A herança genética do TDAH também deve ser considerada. Padrões de interação familiar no começo da infância provavelmente não causam TDAH, embora influam no seu curso ou contribuam para o desenvolvimento secundário de problemas de conduta. Apesar de todas essas informações, não existe uma causa exata e única para o TDAH até hoje, o que abre um espaço para críticas e questionamentos sobre as causas.
6 – Quais as opções de tratamento atualmente?
Psicóloga Mônica Costa: O tratamento com medicamentos é usado para contenção dos efeitos do transtorno, reduzindo os principais sintomas, como a impulsividade e a desatenção. É uma resposta imediata para amenizar a angústia e o desconforto dos responsáveis e pais, pois os efeitos rápidos favorecem aspectos importantes na vida da criança, adolescente ou adulto, como o desenvolvimento pedagógico e o desempenho em funções profissionais.
O tratamento com a psicoterapia é uma modalidade essencial para o cuidado do TDAH, contribuindo para o apoio a familiares, tratando da demanda das crianças, adolescentes e adultos. Os psicólogos acolhem com respeito, sigilo e ética as questões apresentadas pelos pais e conduzem, por meio do lúdico, as intervenções com as crianças, favorecendo a mudança de comportamentos e auxiliando no encontro de caminhos de vida para além do rótulo de TDAH, focados na história e subjetividade de cada um.
Há também outras atividades como a yoga na infância e o shiatsu para adolescentes e os adultos. Acupuntura, atividades físicas e esportes também favorecem as pessoas diagnosticadas com o TDAH. O auxílio de psicopedagogos, dos professores e da equipe pedagógica escolar também pode ser essencial na complementação do tratamento de qualidade.
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