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A cultura do cancelamento: 3 motivos para evitá-la

24 de February, 2021

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Pelo dicionário, cancelar alguma coisa é o mesmo que torná-la algo sem valor, nulo, aparecendo como sinônimo de palavras como abolir ou anular.  De que forma, então, esses conceitos passam a ser atribuídos a uma pessoa?

Quando as palavras mudam de sentido

Vale aqui uma pausa para uma breve explicação sobre o fenômeno que acontece com palavras como “cancelamento”. Geralmente, quando um termo que possui originalmente um significado ganha, popularmente, outro, isso não acontece de forma aleatória. Na verdade, mantém-se um elo entre o significado original e o novo, ainda que neste último ele apareça de forma adaptada ou expandida.

Então, se cancelar é o mesmo que anular – você cancela um contrato, uma assinatura de serviço, por exemplo – quando falamos do cancelamento de pessoas, estamos trazendo esse conceito de anulação para a vida social e/ou profissional de alguém.

Bullying e cancelamento

Há algum tempo, se discute muito a questão do bullying nos espaços de convívio social, em especial, dentro das escolas. Séries como “13 reasons why”, lançada em 2017, mostram o potencial nocivo dessa prática. 

Mas o que é o bullying?

São repetidos atos de violência física ou psicológica, feitos de maneira intencional, no intuito de criticar uma determinada característica física ou comportamental de uma pessoa. 

Já no cancelamento, a pessoa é anulada (de sua vida pessoal ou profissional) por ter cometido (o que se julga ser) um erro. 

Então, se uma determinada personalidade da mídia usa uma palavra equivocada ou comete algum deslize, ela recebe uma onda de ataques, o chamado linchamento virtual.

As consequências desse ato são muitas e vão desde o cancelamento de contratos de trabalho até ameaças de morte.

Dessa forma, é possível dizer que o cancelamento é uma versão ampliada e adulta da cultura do bullying, uma vez que alcança proporções muito maiores.

3 motivos para evitar o cancelamento

  •  Violência gera violência:

A frase é clichê, mas muito verdadeira. 

As pessoas que, geralmente, passam pelo chamado processo de cancelamento, são aquelas que apresentam algum comportamento preconceituoso ou intolerante, como o ocorrido durante o BBB21. Contraditoriamente, a reação a essa postura passa pelos mesmos lugares de violência e agressividade. 

Não seria um equívoco tentar combater o mal com o mal? Quais são os efeitos positivos do cancelamento? Estamos de fato resolvendo o problema ou estamos transformando ele em uma bola de neve cada vez mais difícil de ser contida?

  • O exercício da empatia:

O cancelado, muitas vezes, é alguém que não teve empatia por alguém ou por um determinado grupo de pessoas. Suas ações refletem padrões como a homofobia, o racismo, o machismo…

No entanto, ao praticar o linchamento virtual, não estararíamos nós nos colocando em pé de igualdade com aquele que criticamos. Não nos falta empatia para compreender que as pessoas não são perfeitas e que o aperfeiçoamento vem com o tempo?

  • O direito à 2ª chance:

Muito se fala hoje em dia sobre desenvolvermos a perspectiva de que o erro não é sinônimo de fracasso, mas sim uma oportunidade de aprendizado. É claro que existem erros e erros. Porém, será que ao cancelarmos uma pessoa não estamos tirando dela a oportunidade de melhorar enquanto ser humano, reconhecendo seus atos e, consequentemente, buscando um caminho mais interessante para a sua vida?

Não cancelar é diferente de aceitar

Para finalizar, é importante compreender que evitar o cancelamento não é o mesmo que aceitar ou deixar passar todo e qualquer tipo de equívoco, principalmente quando estamos falando de pessoas públicas.

Os chamados influencers têm a capacidade de  inspirar milhares de pessoas que podem se sentir legitimadas a adotar a mesma postura que seus ídolos.

Por isso, é preciso sim sinalizar os erros, as falhas e mostrar o porquê de tal comportamento não poder ser aceito.

É necessário que cobremos posturas e retratações daqueles que cometem deslizes – em especial, dos que se acreditam certos. No entanto, todos têm o direito de errar e o dever de assumir a responsabilidade pelas consequências dos seus atos e isso não pode servir para justificar atos de violência.

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